AVENTURAS NA TERRA DO TIO SAM
Naquela distante década de 70 Lucy morava em Lawrence, pequena cidade no estado de Massachusetts. Pai português e mãe brasileira Lucy aos 17 anos dominava com perfeição o inglês e o português. Aos 18 anos dirigia o seu primeiro carro.
Aquele arcoense, do alto dos seus 28 aninhos estava descobrindo a América. Corria o ano de 1974. No Clube da Colônia Portuguesa, em Lawrence, o “Mineirin” cultivou belas amizades. Ali se tomava um bom vinho acompanhado por queijos fantásticos, incluindo aí o legendário “Serra da Estrela”. Ali se comia a sardinha assada, comida típica de Portugal, um manjar dos deuses.
Naquela tarde aquele arcoense viu Lucy pela primeira vez. Houve uma troca de olhares, algo diferente, espelhando cumplicidade. Naquele dia não se falaram. Ele com 28, ela com apenas 17, uma diferença de 11 anos o deixava embatucado. A pergunta seria: Como aproximar-se de Lucy?
Duas semanas se passaram. Acontecia uma festa na Colônia Portuguesa. Trajando vestido rosa ela caminhou em direção daquela figura “Made in Brasil”. Aqueles olhos mineiros, desconfiados, mal acreditavam. Olhou em volta, não havia ninguém. O alvo era ele.
A partir daquele primeiro encontro o Ford Falcon 66, beje, com teto de vinil azul, percorria, nos finais de semana, aquele caminho, acompanhando as curvas do Merrimack River, até chegar a Lawrence. Ele residia em Lowell, era operário na área de petroquímica. Ela auxiliar de enfermagem.
Veio a crise do petróleo iniciada em 1973, o preço do barril foi para as alturas. Todos os funcionários daquela imensa fábrica foram demitidos. Era questão de segurança nacional. Grande parte das indústrias que usavam matéria prima derivada do petróleo foi fechada. Aquele jovem arcoense estava desempregado.
O cheque do seguro desemprego aparecia religiosamente toda a semana. Correspondia a 90% do salário real. Aquele “Mineirin” matutava... estava ali a oportunidade para conhecer melhor a “Nova Inglaterra”, berço da civilização norte americana. Oportunidade não se deve perder, pensava ele.
A partir daí aquele Ford Falcon percorria boa parte dos estados de Massachusetts, Connecticut e New Hampshire, chegando próximo ao Maine onde se via placas nas estradas, alertando aos motoristas sobre os grandes alces que vivem naquela região, cruzando estradas.
Naquela tarde de domingo houve um rebuliço na Colônia Portuguesa de Lawrence. A diva Amália Rodrigues iria se apresentar na Casa de Portugal, em Cambridge. Lucy e o “Mineirin” vibraram com a notícia. Afinal, ver e ouvir a lenda do fado português era uma oportunidade única.
Na Casa de Portugal, entre fados, vinho e boa comida havia uma tristeza no ar. Lucy já sabia. O companheiro de aventuras, entre beijos e abraços, iria voltar para a sua Arcos; onde o rio mais importante do mundo é aquele que passa na sua cidade...
No enorme saguão do Logan Airport, em Boston, a música soava no ar, a mesma música que embalara as suas aventuras, na terra do Tio Sam.
Arcos, 13 de fevereiro de 2012
e-mail: nelsonaprendiz@hotmail.com
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